A pedido de algumas meninas, repito os passos dados noutro carreiro.
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Mas isso lá são férias?! Sempre com as botifarronas calçadas!!É o comentário da minha tia, ao ver as fotos que tirei no Peru.
Tenho de me rir. Gosto da maneira como o seu sotaque alentejano dá vida ao “botifarronas”…
Quanto ao resto também tem razão. A subida ao Machu Pichu, percorrendo a pé o caminho Inca até à antiga capital do império, subindo e descendo enormes degraus seculares, acampando a 4 mil metros de altitude, sofrendo com os frios glaciares nocturnos e com o calor abrasador do dia, não correspondem à ideia tradicional de férias.
O caminho é longo, tortuoso e serpenteia rente à montanha; poucos metros nos separam do abismo invisível.
Em altitude, o ar rarefeito quase nos corta a respiração. Mas não tanto quanto a visão das colossais paisagens que nos rodeiam. Montanhas cobertas de vegetação verde e espessa, cascatas sorrateiras, ruínas perfeitamente construídas em locais que julgaríamos de acesso impossível.
A tenda é fria e desconfortável, mas quando saio cá para fora e vejo uma lua enorme, ali quase ao alcance de um toque, envolvendo as ruínas incas de uma luz espectral, não a trocaria por qualquer cama de hotel. E nenhum room service do mundo me saberia tão bem ao fim de 6 horas de marcha quanto o chá quente e as pipocas acabadas de fazer que os carregadores quechua me oferecem à entrada da tenda.
Os músculos latejam, os pés têm bolhas e os joelhos ferrugem, mas nunca me senti tão viva e tão em forma como quando, ao fim do quarto dia de marcha, pude contemplar, finalmente, o Machu Pichu.
Foto: RCC. Rutix, X@n@ e RCC in Peru. 2008