Só
quando o carro passou pela placa à beira da estrada é que percebi onde estava. Perto
de Elvas, sim, mas ainda mais perto de uma antiga história de família.
Importante fortificação, posteriormente convertida
em prisão militar, o Forte da Graça, era “O Forte” que acompanhava o “Zequinha”
na alcunha que o meu avô José ganhara logo nos primeiros anos de vida.
Subi
até ao imponente baluarte, e pela primeira vez senti as muralhas a que o Zequinha do Forte,
com apenas 3 ou 4 anos, se assomou, em periclitante equilíbrio, para ver um
ninho cheio de ovos de pássaro alojado numa fenda da amurada. Valeu-lhe um par
de mãos forte e os reflexos rápidos de um oficial que fazia a ronda.
Toda a
vida ouvi esta história, como se tivesse passado num local
virtual e incorpóreo. Uma singela lenda familiar que agora se enchia de vida e
dimensão.
A fortaleza está tristemente
em ruínas. Numa das casas construídas nos baluartes pentagonais viveram os meus bisavós. Entrei numa delas ao acaso. Vazia;
paredes forradas a cimento, tijolos em vez de janelas. É preciso
um esforço grande da imaginação para conceber que alguém aqui alguma vez morou,
trabalhou, criou uma família.
Património Mundial da
Unesco, o Forte da Graça está vetado ao abandono.
É arrepiante ver o estado a
que chegou um edifício que marcou a história do pais.
Assustadores são os boatos
de que poderá vir a ser vendido a um grupo empresarial chinês.....
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